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6 de setembro de 2010

Teologia política

Dois artigos do teólogo e filósofo Jung Mo Sung, professor titular da Universidade Metodista de São Paulo, no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião, publicados nos dias 20 e 27 de agosto de 2010, na Agência de Informação Frei Tito para América Latina são excelentes para refletir a atuação política dos cristãos.

Concordo plenamente com Jung quando ele diz que “devemos aproveitar esta época de eleição para rediscutirmos a questão da relação entre a fé e a política”.

Mas, Jung alerta que os campos da fé, do compromisso social e da política são distintos. Existem diferenças nas dinâmicas e nas identidades das comunidades de fé, das lutas sociais e do campo da política e Estado.

Segundo ele, muitas vezes se pensou que se falar em política era o mesmo que anunciar o Evangelho, simplesmente pelo fato de que “ser cristão é anunciar a boa-nova (evangelho) da libertação de todas as formas de opressão que pesam sobre excluídos/as de todo o mundo aos pobres. E não se pode fazer isso sem tomar parte nas lutas e/ou ações sociais, ao lado das vítimas de sistemas econômicos, políticos, sociais e culturais opressivos e excludentes.”

Essa confusão pode levar e levou a problemas práticos. A luta em favor dos excluídos do sistema deixa de ser parte essencial da identidade cristã e da reflexão teológica e passa a ser apenas uma forma de aplicação da fé. Outro problema é que se deixa de debater sobre as instituições e a estrutura de Estado e passa-se a discutir apenas sobre a “ficha limpa” dos candidatos que devem ser “apoiados” pelos cristãos.

Ou seja, acredita-se que o sistema do que jeito que está pode funcionar se houver um “salvador da pátria”, um “messias”.

Quando os cristãos participam mais ativamente da política partidária, ou se afastam de sua base eclesial por haver dificuldade de diálogo com aqueles que têm atuação mais efetiva no ambiente intra-eclesial, ou então há o afastamento da política partidária por se entender que este é um ambiente “sujo”. Ou seja, não percebem que cada ambiente tem sua dinâmica e identidade específica.

Mas, a luta social sem o Estado fica “capenga”. As reivindicações dos movimentos sociais não se tornam direitos garantidos. E, mesmo sendo contra o neoliberalismo, acabam agindo a favor dele, já que deixam espaço para que eles se responsabilizem pelas esferas de atuação política e apliquem seu “Estado mínimo”, que não mais faz do que gerenciar o que está errado e não muda nada.

Por isso, Jung acredita que “precisamos colocar urgentemente na pauta da discussão teológica e dos debates pastorais a questão da democracia e do Estado” e elaborar uma “teologia política”, uma “teologia de Estado”.

Leia os artigos Sonho de sociedade sem Estado e a Teologia e Fé e política: de novo?, aos quais me refiro neste texto.

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